Paper #11

A noção de documento construída de Otlet a Meyriat e as propostas neodocumentalistas

Cristina Dotta Ortega (Universidade Federal de Minas Gerais, Brazil)
Gustavo Silva Saldanha (IBICT – UNIRIO, Brazil)

Resumo

Considerando a crescente discussão contemporânea em torno da neodocumentação, frente à menor disseminação e reconhecimento da abordagem da clássica Documentação, faz-se necessário tratar da relação entre as duas abordagens para uma compreensão da noção de documento no campo. O objetivo deste trabalho é discutir a literatura francófona sobre ‘documento’, como objeto material e simbólico que é produto da prática documentária, e estabelecer relações com a literatura de orientação anglo-americana denominada neodocumentação, visando contribuir para a consolidação conceitual do tema. A primeira parte trata da noção de documento proposta pelo belga Paul Otlet no início do século XX e desenvolvida pelos seus continuadores franceses diretos e indiretos, e por pesquisadores espanhois, além de autores contemporâneos franceses e brasileiros. A segunda parte apresenta as ideias de autores de produção anglófona, denominados por muitos como neodocumentalistas que, em especial a partir da década de 1990, tomaram por base Paul Otlet e Suzanne Briet, e desenvolveram propostas próprias. Na terceira parte, realizamos uma discussão entre a noção clássica de documento de origem francófona e seus desenvolvimentos atuais, e as propostas contemporâneas produzidas em língua inglesa pela chamada neodocumentação, discutindo, entre outros, a pertinência dos termos neodocumentação e neodocumentalista, além do lugar do documento eletrônico, tratados por ambas as vertentes. A construção histórica da noção de documento aponta que ele é produto de ações de mediação, as quais se realizam por atividades como seleção, representação, ordenação, exposições. Sistemas e serviços e demais atividades constituem os dispositivos documentários, que funcionam como proposta de percurso dos sujeitos no mundo da informação. Deste modo, antes de estabelecer a necessidade de demarcação de um novo conceito de documento, percebemos que os estudos neodocumentalistas propõem visões distintas, buscando um diálogo com os preceitos do foco documentalista, mas sob configurações ainda carentes de recuo histórico crítico e de uma interpretação contemporânea abrangente, que reconheça a historicidade contínua de uma reflexão sobre o documento em tradições epistemológicas não-anglófonas.

La notion du document d’Otlet à Meyriat et les propositions néodocumentalistes

Resumé

En considérant la discussion croissante contemporaine au tour de la néodocumentation et le peu de dissémination et de reconnaissance de l’approche classique de la Documentation, l’étude du rapport entre ces deux approches est nécessaire, pour comprendre la notion du document dans ce domaine. Le but de ce travail est de discuter la littérature francophone sur « document », comme objet matériel et symbolique produit de la pratique documentaire, et d’établir des relations avec la littérature d’orientation anglo-américaine appelée néodocumentation pour contribuer à la consolidation conceptuelle du thème. La première partie traite de la notion de document créée par le Belge Paul Otlet, au début du XXème siècle, et développée par ses continuateurs français directs et indirects et par des chercheurs espagnols, outre d’auteurs contemporains français et brésiliens. Dans la deuxième partie, il est question des idées des auteurs de production anglophone appelés par beaucoup néodocumentalistes, qui ont pris comme base Paul Otlet et Suzanne Briet, spécialement à partir des années 1990, et qui ont développé leurs propres études. Dans la troisième partie, nous discutons la notion classique de document d’origine francophone et son développement actuel et les travaux contemporains produits en langue anglaise, par ce qui est appelé la néodocumentation, discutant, entre autres choses, la pertinence des termes néodocumentation et néodocumentaliste, outre la place du document électronique, traités par les deux courants. La construction historique de la notion de document montre qu’il est le produit d’actions de médiation, lesquelles sont réalisées par des activités comme la sélection, la représentation, l’classement, les expositions. Des systèmes et services et d’autres activités constituent les dispositifs documentaires qui fonctionnent comme proposition de parcours des sujets dans le monde de l’information. Ainsi, avant de déceler le besoin de démarcation d’un nouveau concept de document, nous avons perçu que les études néodocumentalistes proposent des visions distinctes, cherchant un dialogue avec les préceptes de la question centrale du documentaliste, mais par des configurations encore vide de recul historique critique et d’une interprétation contemporaine plus large, qui reconnaisse l’historicité continue d’une réflexion sur le document en traditions épistémologiques non-anglophones.